O ASPECTO COGNITIVO E AFETIVO DO MOVIMENTO



A realização da atividade corporal, o movimento e a estabilidade postural, desenvolvem-se de acordo com os objetivos à realidade e desejos de cada sujeito, em uma relação de simultaneidade com a afetividade e cognição. Nenhum ato, mesmo quando é automatizado, abstrai-se das marcas da linguagem-afetividade, já que media a construção de laços sociais e transformação do ambiente:o dar-se a ver para o outro.

A atividade corporal é organizada para responder a estímulos sensoriais e perceptivos (controle motor), que surgem da interação com o ambiente, com o imaginário e história de vida, inscritos no próprio corpo. Assim, o ato motor não é constituído apenas por uma estrutura reflexa e automatizada, já que utiliza a antecipação e pré-compensação das conseqüências dos movimentos, para manutenção efetiva do equilíbrio corporal. Desta forma, a ligação entre cognição e ação não pode ser ignorada, e é improvável que a ação– projeto e controle motor - seja efetiva sem adequar a intenção do sujeito à sua realização.

De acordo com Ajuriaguerra o aspecto afetivo está implicado na organização tônica - emocional do corpo e nos parâmetros cognitivos (como a organização do pensamento, memória), que regula e adapta o projeto motor, a percepção do espaço, do ritmo e dos objetos, bem como, a apropriação do corpo e sensações. Esta condição vai influenciar diretamente na funcionalidade de sistemas orgânicos (respiratório, circulatório, uroginecológico e cardíaco).

A psicomotricidade clinica correlaciona de forma clara os aspectos instrumentais (pensamento, afetividade, movimento, comunicação) e estruturais (Sistema Nervoso e o corpo) do sujeito. Assim, esta reflexão demonstra a contribuição relevante da psicomotricidade no processo de saúde. Conclui-se, então, que as aquisições funcionais apóiam-se não apenas em um trabalho voltado para o corpo, mais na construção de estratégias terapêuticas que envolvam conhecimento da psicogenética e estruturas de pensamento (sensório-motores e operatórios), inclusive em pessoas com a função cognitiva alterada. Ponto essencial também para o tratamento é a própria representação do sujeito diante à sua corporeidade, e a escuta que daí advém por parte do profissional, sustentado na ética psicanalítica.

ENFOQUE PSICOMOTOR NO ENVELHECIMENTO


O envelhecimento é um processo fisiológico natural e dinâmico que resulta em alterações constantes a nível físico, psicológico e social. Depende diretamente dos hábitos de vida e mecanismos de enfrentamento. Como conseqüência, observa-se uma diminuição no desempenho funcional (senescência), decorrente principalmente de déficits cognitivos (praxia ideomotora e ideacional) e sensórios – motores, sendo este processo dinamizado e intensificado pela falta de experiências neuropsicomotoras. Inserido nesta realidade, o corpo do idoso é marcado por estereótipos de incapacidade, o que afeta sua representação corporal (Esquema Corporal) e possibilidades de realização. Desta forma, envelhecer de maneira saudável não significa apenas a supressão - controle de estados mórbidos, mas o reconhecimento da condição de autonomia possível, o sentido dado às suas possibilidades e limites a nível funcional e expressivo e o investimento em certos cuidados e prazeres no tocante a corporeidade.

Através da psicomotricidade, o processo de saúde é abordado incluindo os pressupostos teóricos desenvolvimentistas (neuro - funcional / controle motor), psicogenéticos (organização do pensamento - consciência) e psicanalíticos intrincados na retrogênese neuropsicomotora. Considera-se a dimensão biológica, cognitiva e afetiva, onde os aspectos relacionam-se no sentido de configurar o processo de envelhecimento do sujeito neuropsicomotor nos diversos níveis de saúde e qualidade de vida. Conclui-se, então, que a inter-relação entre a psicomotricidade e a fisioterapia propõe-se em abordar os distúrbios neuropsicomotores, minimizando a resistência à terapêutica e ao autocuidado, potencializando o aprendizado neuropsicomotor e aa mudança de hábitos deletérios, Assim, as manutenções / aquisições funcionais sustentam-se não apenas em um trabalho voltado para o corpo físico, mais na construção de estratégias terapêuticas que envolvam a cognição e a forma que o sujeito significa o envelhecimento e o olhar do outro á sua nova condição humana (Imagem Corporal), redimensionando a função - corporeidade ao nível da assimilação que o indivíduo pode estabelecer com a mesma.

HISTÓRIA DO CORPO


Historia Do Corpo, 3 Volumes


Organizador:
VIGARELLO, GEORGES
CORBIN, ALAIN
COURTINE, JEAN-JACQUES

Editora: VOZES

Assunto: HISTÓRIA

A obra 'História do corpo' mobilizou dezenas de historiadores para afirmar a centralidade do corpo como objeto de estudo da história humana. A caixa é composta de três volumes que revelam o quanto as práticas, os objetos, as técnicas, os olhares e as representações se recompõem em temas como a alimentação, as relações familiares, a higiene, a prostituição, os esportes, a beleza e a estética, o pudor, a saúde e a medicina, o imaginário e as crenças, as ciências, os papéis do gênero, a sensibilidade e as artes, a cultura e a religião, enfim, como evoluíram historicamente as noções e as formas de se relacionar com o corpo em todas as áreas do conhecimento, na cultura e na sociedade desde a Renascença até o século vinte.

O Globo / Data: 26/7/2008

Entre desejos e normas, dor e prazer


Obra em três volumes dirigida por pesquisadores franceses conta a história do corpo do Renascimento ao século XX

Joëlle Rouchou e Mônica Pimenta Velloso

É com o corpo que marcamos nossa presença no mundo. Através dele, expressamos sensações, sentimentos, emoções e estabelecemos relação com os outros, o mundo e a cultura. Leva-nos ao bem-estar e ao prazer e, também, à enfermidade, ao envelhecimento e à morte. Tais idéias são cuidadosamente analisadas e historicizadas nos três volumes de “História do corpo” (Editora Vozes), sob a direção competente de Georges Vigarello, Alain Corbin e Jean-Jacques Courtine. Nesta obra indispensável aos estudos da cultura, o primeiro tomo vai da Renascença às Luzes; o segundo, da Revolução Francesa à Primeira Grande Guerra; e o terceiro enfoca o século XX. A obra faz pensar sobre a condição humana. O corpo é o receptáculo da cultura e cada época vai refletir nele os valores e as regras de determinada sociedade.

GUSTAV VIGELAND




CORPOS
Influenciado por Rodin, Gustav Vigeland cria corpos que falam, escapando do que poderia ser apreciado pela simples estética da forma, nos captura pela emoção em cena.

ATELIÊ DE DANÇATERAPIA

A PRÁTICA DA CONSCIÊNCIA CORPORAL

É uma atitude do próprio individuo em relação a si e ao ambiente, em constante interação e mudança. O corpo é a inscrição de nossos hábitos, desejos, assumindo posturas que expressam a forma que percebemos o entorno e como nos sentimos, em relação a nós mesmos e ao mundo. Assim, é tomado por pulsões continuas, emoções que se sucedem constantemente ou algumas que se instalam, bloqueando o movimento e a percepção.

Se estivermos conscientes das instabilidades da vida e a repercussão das mesmas na forma que sentimos nosso corpo e nos expressamos podemos evitar a instalação de desequilíbrios físicos, bem como significar o que escapa da nossa intenção, e é dado a ver pelos nossos movimentos, bloqueios, posturas, pelas sensações referentes ao toque, prazer, a dor...

As atitudes de direcionamento mental, autoconhecimento e motivação individual em relação ao próprio corpo (em relação a si mesmo), podem auxiliar o tratamento e prevenção de lesões, favorecendo o processo de ato-cura e regeneração, presente em todos.

Da mesma forma que o autoconhecimento é estimulo para o equilíbrio e manutenção de saúde, a ausência de consciência corporal favorece a instalação da doença. A pessoa sem consciência corporal não se conhece integralmente. Com o tempo, passa a se sentir insegura, necessitando de atitudes sociais para comprovação da individualidade, dissociando o querer do sentir.

O corpo sem consciência acumula tensões desnecessárias. Com a busca de si, o individuo passa a compreender suas causas, interagindo de forma mais criativa com o espaço e tempo circundante.